Sussurros na Tarde


Agonizante som de metal:
A branco animal cai abatido.
Ruidosas canções de moças morenas
Repousam sobre folhas mortas.

Primeiros sonhos das cores de Deus;
Delicadas asas da insanidade;
Sombras passam sobre a montanha
Enegrecida pela putrefação.

Crepúsculo repleto de descanso e vinho;
Violões tristemente tangidos.
E como se estivesses num sonho,
Retornas à serena luz interior.

Georg Trakl

tradução de *Henrique Alves


Nascido na Áustria, o poeta expressionista Georg Trakl (1887-1914) teve vida e morte trágicas. Sua inadaptação ao mundo decorria principalmente de uma personalidade sensivelmente melancolizada e da incapacidade de absorção do sofrimento pessoal e alheio. Seu suicídio durante a Primeira Guerra Mundial, quando servia como enfermeiro no exército austríaco, foi a única resposta ao surrealismo insuportável e absurdamente inconcebível de um mundo que não encontrava o caminho da paz.
Os poemas de Trakl revelam uma turbulenta atividade interior e a vulcânica explosão de uma alma à procura do repouso. Sussurros Na Tarde carrega imagens fortíssimas e de cores berrantes, em que, num simples crepúsculo morte e vida, belo e feio, convivem lado a lado. E, como num sonho louco com final feliz, raríssimo recurso nos poemas Trakleanos, a alma encontra o desejado descanso. Mas, mesmo num final feliz, Trakl põe a felicidade tão somente nos limites do sonho.

Pobre querido Trakl!

*Henrique Alves é tradutor, escritor, poeta, fã de Mahler e Rachimaninoff, Shakespeare e Tolstoi.

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