1949: Altinópolis FC, Campeão do Interior Paulista


Desde menino ouvia as histórias que o meu pai, Flávio de Figueiredo Alves, o Faísca, contava sobre futebol e o grande feito do Altinópolis Futebol Clube em 1949: Campeão Amador do Interior do Estado de São Paulo.
De vez em quando mostrava a medalhinha da Federação Paulista de Futebol. Miudinha...
Naqueles tempos, o respeito, o orgulho e o civismo enalteciam as pessoas, por mais simples que fossem, a marca registrada das gerações de 1920 e 1930, tempo em que havia lágrimas em velório.

por José Márcio

--- Você é filho do Faísca? Conheci demais. Joguei futebor com ele, uai! Quantos ano...
Assim me cumprimentavam ao saberem que eu era filho do Faísca. Por décadas o assunto era o Altinópolis campeão, o glorioso AFC de 1949. A comemoração da vitória foi na sede do Clube 9 de Março, atual câmara municipal, onde reuniu as principais lideranças da cidade. Discursos eloqüentes e vivas aos campeões em festa que varou noite adentro.
No rancho Iza, uma fazendinha no município de Campinas onde moramos por dez anos, o Faísca era o rei da bola. Jogava para a fazenda Monte D’Oste, entre Campinas e Jaguariúna. Todo domingo tinha jogo. Debruçados no pequeno alambrado, os torcedores sentavam no chão e em redor do gramado sombreado por um bosque de eucalipto. A grande maioria dos campos de futebol eram assim. Alguns sentavam em banquinhos ou em travesseiros, outros em cima de jornal, torcendo e vibrando a cada gol do Monte D’Oeste. As partidas terminavam sempre com 8x5, 9x3, 12x8, enfim, tinha gol pra burro em cada jogo.


Faísca, bom de bola.

Nunca vi uma briga.
As moças fazian o futing de canto a canto. Tinha sorveteiro, refrigerante gelado em câmaras de ferro com gelo coberto de palha de arroz, jogo de malha e bocha. Mascate a dar com pau. Era um Clube, uma cidadezinha deliciosa a fazenda Monte D’Oeste. Os moradores das fazendas daqueles tempos somavam mais que os da cidade. Vendas e armazéns a perder de vista.
Do glorioso Altinópolis Futebol Clube, os atletas Gatti, Massa, Edson, Coelho, Manoel, Wander, Delcídio, Faísca, Dirceu, Dari e Gatinho, poucos ainda vivem.

Ecos no pantanal
Em 1997, num hotel fazenda no Mato Grosso do sul, lugar de pescadores, um italiano forte, de calção e camiseta, fritava uma tachada de peixe. Ao me ver indagou:
--- Você num é fio do Faísca? Gelei e sorri.
--- Mas eu to veno, uai, é a cara dele.
--- O senhor o conheceu?
--- Eu sou de Jardinópolis e joguei futebor com ele muitos anos lá na Parnaíba. Todo domingo nóis ia lá.
Comemos peixe frito e tomamos cerveja, remoendo os feitos e as muitas amizades do Faísca, o meu pai, falecido em maio de 1998.
Hoje, o AFC não mais existe. Só na memória de uns poucos.

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Um comentário:

  1. J.H.M.Condé disse...

    Saudosos tempos!
    Até minha infância e adolescência, o AFC ainda era um time, algo que fazia movimento entre o povo, talvez revivendo sempre o famoso time de 49.
    Hoje a cidade toda não merece nem sequer um comentário.
    Bons tempos, boa gente, saudoso Faísca!
    JHeitor
    22 de janeiro de 2010 17:10

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