Os ecos das risonhas confrarias.

Romeu Antunes é antes de tudo um jornalista. Bebeu em muitas fontes e faz de tudo um pouco. Natural de Santa Rosa do Viterbo - SP, terra de personagens críveis e autênticos, é intimo de pescadores, pedreiros, construtores, músicos, poetas, escritores e principalmente de bons cozinheiros. Em Março de 2000 estreou como escritor, ao publicar o livro Histórias de Santa Rosa de Viterbo, onde fez uma abordagem nada convencional na linha do tempo. Além da história clássica da formação do município com seus habitantes mais ilustres e pitorescos, Romeu Antunes dá uma lapada de mestre no prefácio. Cita desde a formação do Planeta Terra até a queda de um prefeito local. Um texto primoroso, recheado com a prosa cabocla num livro que já é parte da história regional como uma fonte riquíssima de informações que se perderiam no tempo se não fossem devidamente catalogadas. O retrato da sua terra está no registro de escritor Romeu Antunes, preocupado em resgatar a memória do seu tempo. Além de escritor, jornalista, letrista, poeta e cozinheiro, é também um excelente fotógrafo, autor de belíssimas fotos de muitos personagens da sua querida Santa Rosa. O conheci no rancho do também jornalista e escritor João Garcia, à beira do Rio Pardo. Romeu já era um integrante antigo da turma do funil, tradicionalíssima nas ranchadas de Santa Rosa, daquelas onde o único compromisso era a boa mesa e o de deixar a vida rolar, no compasso garboso dos eufemismos inocentes dos pescadores nativos, das bravatas simplórias e das cantorias singelas, das sonatas do cancioneiro popular e dos achados de repentes acontecidos em quadras duvidosas. Fui um intruso de poucos dias num calendário de muitas décadas, mas deixei o meu pique no cabo do remo. A conversa ao pé do fogo não raro adiantava madrugada adentro na boca dos timoneiros de dúzias de causos da terra. Jamais ousaria enumerar a todos sem escorregar na gafe do esquecimento, mesmo porque não tenho nenhum compromisso com a memória. Mas o meu pensamento ora se afunila também no saudoso Claudio, aquele caipira genuíno na amplitude máxima da palavra. Cortês e serviçal, alegre e prestativo, indefeso e melancólico. Impossível imaginar o Rancho de Santa Rosa sem o Cláudio a beira do fogão, sem a companhia daquela turma a degustar a mais saborosa de todas as iguarias: o cumprimento da chegada e o abraço da partida. O Rancho de Santa Rosa que conheci não mais existe. O Xandó, que conheci somente numa ranchada, o Chico Louco, o Batata e o Cláudio, vazaram na barranca do destino. Mas lá longe, muito ao longe, no rebojo das lembranças da correnteza do Rio Pardo, mansinha, sempre haverá um pescador solitário a ouvir talvez, murmúrios e cicios lamuriosos, ou quem sabe até os ecos de antigas e risonhas confrarias. contato mapim53@yahoo.com.br José Márcio Castro Alves Página Inicial

Um comentário:

  1. Blog do Joao e da Zo disse...

    Lindo texto, saborosíssimo como torresmo crocante; como pescada com molho de camarão, como churrasco de balde. Como feijão e bacalhau. Como piau do Rio Pardo. Como as tardes sem fim à beira da água. Como música de Tom, quadro de Almeida Jr., segredos da noite e pirilampos. Parabéns, artista.
    24 de abril de 2010 19:15

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