Oldemar Brondi, uma vida dedicada a Altinópolis.

por José Márcio Castro Alves clique nas fotos e amplie

Três de fevereiro de 2011. Almocei no centro de Ribeirão Preto e retornei ao meu apartamento por volta das 14hs. Liguei o computador e comecei a escrever uma matéria para o meu blog - Altinópolis, Minha Terra - sobre o Oldemar Brondi, um amigo que conheci em 2006 e que me cedeu a maior parte da documentação que usei para fazer um vídeo sobre Altinópolis. Coloquei uns filmes de entrevistas que fiz com ele e comecei a revê-los e a anotar. Em menos de meia hora o telefone tocou. Era o Eliezer Amaro, funcionário da prefeitura municipal e que mantém o site Altinópolis On Line, do qual sou colaborador. --- Você tem alguma matéria sobre o Oldemar Brondi? Perguntou o Eliézer logo após os cumprimentos. --- Estou escrevendo uma agora, nesse instante. Por quê? --- O Oldemar Brondi morreu! --- Meu Deus... Três quartos da humanidade não estão nem aí. O outro quarto indaga. Ninguém obteve e ninguém jamais obterá a resposta. Só Deus sabe do pó de onde viemos (Voltaire – 1694 – 1778)

Oldemar Brondi (12/06/1921 – 03/02/2011) nasceu predestinado a entrar para a história de Altinópolis e dos que o conheceram. Filho dos imigrantes italianos Hércules Antonio Brondi e Alice Buzelli, teve uma infância pobre, mas muito sadia e feliz, ao lado dos seus três irmãos: Orvanio, Suzana e Doroty, dos quais se orgulhava muito. Fez o curso primário no Grupo Escolar Cel. Joaquim da Cunha Diniz Junqueira e logo no quarto ano conheceria Maria Zilá Barbosa, colega de turma, a mulher que se tornaria a namorada e mãe dos seus três filhos, Dener, Maria e Isabela.

Após o curso primário, o jovem Oldemar foi indicado pelo professor Agnelo Espiridião Junior a entrar como aprendiz na Farmácia São José, de Salvador Dias da Costa, o Dodô. Foi lá que conheceria o então gerente Sebastião Ferreira de Carvalho (Fiúca), com quem aprenderia a arte da boa caligrafia, pois tinha de escrever os rótulos dos medicamentos a mão. A partir de 1936, o Dodô, dono da farmácia, se tornaria o prefeito municipal e o gerente Fiúca foi trabalhar como funcionário público estadual, sobrando a vaga de gerente ao ilustre jovem de 16 anos, Oldemar Brondi, cargo que ocuparia com galhardia por 23 anos. Memorialista por vocação e arquivista por intuição, Oldemar Brondi lia muito e sempre guardava jornais, revistas, fotos e documentos referentes a Altinópolis, hobby predileto. Mas foi em 1953 que o então prefeito municipal, dr. Adhemar Villela de Figueiredo, o convidaria a deixar a farmácia São José para fazer parte do quadro de funcionários da prefeitura, uma vez que conhecia o Oldemar de longa data e sabia que Altinópolis ganharia um ótimo funcionário municipal, pontual e leal, a exemplo de muitos colegas do seu tempo.

Foi uma vida dedicada aos livros contábeis, balanços e também das atas da Câmara de Vereadores, tendo se aposentado como um funcionário municipal que nunca se afastou um dia sequer do seu dever. Assim foi a vida do Oldemar Brondi, sem vícios e severo na pontualidade, conselheiro e conciliador. Sempre de fala mansa. Presbiteriano, casou-se com uma católica a contragosto da família, quase que às escondidas, sob as bênçãos do amigo Padre Geraldo Trossel e dentro da própria Casa Paroquial, onde mantinha relações de amizade e confiança com o padre Geraldo, pois apesar de presbiteriano, era o seu farmacêutico particular. Era o Oldemar Brondi quem aplicava injeções no padre Geraldo, mais ninguém.

Em 2006 eu fiz um documentário sobre a história de Altinópolis, assessorado por Oldemar Brondi e sua amável companhia. Ficamos amigos e trabalhamos juntos, meses a fio, esmiuçando jornais antigos, fotos raras e documentos valiosíssimos, nos quais culminariam também no livro de sua autoria, O Povo que Faz Minha Terra, publicado em dois volumes.

Como jornalista publicou inúmeras matérias em jornais sobre fatos ocorridos na sua amada Altinópolis, sempre pesquisando novas fontes e documentos. Era um garimpeiro de notícias sobra a história da sua terra. Oldemar Brondi, um homem simples e bom, que mantinha em suas orações diárias o reclame a Deus pelos sofredores e acamados, que mantinha relações de amizade com a cidade inteira, que gostava de caminhar, conversar e conviver. Ainda em 2006 o convidei para fazer as vezes de um repórter de televisão. Com o microfone em punho o Oldemar detalhou todas casas da rua Cel. Honório Palma, desde o posto de gasolina da entrada até na estação, citando todos os estabelecimentos comerciais e os seus respectivos donos, desde os tempos em que a rua chamava-se Cap. Renato Jardim, trocada de nome a partir de 1958 com a morte do Cel. Honório Palma.

É uma história que não tem fim, a do Oldemar Brondi, pois ela se mistura com a própria história dos últimos 90 anos da cidade onde ele nasceu, cresceu e viveu intensamente, participando vivamente de todos os acontecimentos políticos e sociais mais importantes, desde o primeiro prefeito municipal de Altinópolis até o atual. Oldemar, sempre ao lado da companheira Zilá, amiga de toda hora. Oldemar Brondi, um homem que venceu na vida seguindo a trilha dos justos, que sofreu a perda de um filho em plena maturidade, mas não desanimou. Como Juiz de Paz, celebrou milhares de casamentos com o amigo Wilmer Luiz, desde os tempos do padre Xavier Mácua Charlan. Assim foi o Oldemar Brondi, um homem de voz suave e repleta de simpatia, homenageado inúmeras vezes pelos seus feitos e reconhecido na comunidade como um homem do bem e da paz.

Nosso respeito e solidariedade à toda a família Brondi pelo falecimento deste grande altinopolense que nos enche de orgulho de pronuciar o seu nome e dizer com altivez:

--- Eu conheci o Oldemar Brondi.

Que Deus o acolha na sua infinita misericórdia.

José Márcio Castro Alves, 3 de Fevereiro de 2011.

3 comentários:

  1. Ana Friguetto disse:

    Uma grande perda...
    Não podia começar diferente. Realmente foi uma grande perda.
    Oldemar Brondi se foi, deixou alguns apaixonados pela terrinha assim como eu.
    Sempre que escutava suas histórias da cidade pensava: como cabe tanto conhecimento dentro desta cabeça? Quanto amor pela cidade, como consegue se lembrar dos mínimos detalhes?
    Incansáveis vezes pensei isto. Sabia que se um dia ele faltasse ia ser uma perda muito grande. Tentei sugar o máximo de conhecimento dele, mas apesar da idade ele e de falar com calma, ele me vencia.
    Oldemar e dona Zilá são para mim uma referência de muitas coisas: de respeito, de simplicidade, de conhecimento, de educação, se simpatia, de honestidade, de carinho aos amigos ..etc (bota etc nisso).
    Sentirei falta dele, aliás, já sinto.
    Não consigo pensar em que pode ficar no lugar dele. Você Zé Marcio é um que gosta, procura informações , e escreve com carinho o que sabe de minha cidade.
    Fica então aqui meu apelo Zé. Põe tudo o que sabe e procurou saber no papel.
    Assim se eternizará nas mentes que dão valor as coisas simples e fortes, como o amor pela cidade natal, pelos amigos de infância, pelas passagens da adolescência, pelos mestre, por tudo que um dia vamos descobrir que é inesquecível em nossa vida.
    Não posso dizer adeus ao amigo Oldemar porque amigo não se despedem nunca.
    Esperaram o momento certo pra se encontrarem.
    Da amiga Ana Frighetto.
    5 de fevereiro de 2011 14:21

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  2. De Daniel Fugueteiro

    Realmente uma grande perda.Fico com uma dor maior pois devido a correria do dia a dia nao fui buscar o último livro que ele escreveu.No nosso último encontro ele disse para eu ir buscar na casa dele.Fica como aprendizado para valorizarmos mais as boas coisas da vida como os bons momentos ao lado dele, perguntando de toda a familia e contando histórias de Altinópolis
    Zé Marcio mais uma vez parabens pelo excelente trabalho e sem dúvida nenhuma , se eu tivesse este poder, o nomearia sucessor de Oldemar na busca e zelo do material histórico de Altinópolis , esta terra que tanto adoro.
    Fiquei emocionado tambem com a imagem do meu bisavô Zequinha Fugueteiro e no reconhecimento do seu Oldemar ao meu tio avô Fiúca pelas aulas de caligrafia no video.
    Com certeza lá do Paraíso eles estao juntos mandando energias positivas para nossa terra.
    Grande abraço
    Daniel Fugueteiro

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  3. Somente agora soube dessa lamentável perda... Conheci Oldemar Brondi, o historiador de Altinópolis, no final da década de 1990. Estava eu pesquisando sobre o famoso bandido Dioguinho, o qual assassinara meu trisavô José Venâncio de Azevedo Leal, fazendeiro em Altinópolis (antiga Mato Grosso de Batataes), em 1895. O pesquisador Lysias encaminhou-me até o Oldemar. Tive o prazer de compartilhar da amizade desse excelso memorialista - um verdadeiro acervo de informações sobre a cidade - e de sua amável esposa Zilá. Mas Oldemar era muito mais do que isso. Uma das pessoas mais corretas e ética que conheci, além de amigo sincero e dedicado. Num mundo como o nosso, Homens assim fazem falta. E muita!
    Oldemar Brondi faz falta. Hoje meu dia ficou mais triste.

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